Campo Grande (MS) – Quem passa pela Avenida Afonso Pena, em direção ao Parque dos Poderes, quase sempre lança um olhar de curiosidade sobre o Aquário do Pantanal, em formato de elipse, ou de um peixe, como os que trabalham no loca batizaram. E é relembrar que, embora a construção tenha parado por algum tempo, a vida das espécies foi preservada com todo cuidado. E a Quarentena do Aquário é destaque na comunidade científica internacional.
Com 189 espécies de peixes, estrutura que abriga os animais que serão transferidos para o Aquário do Pantanal, tornou-se laboratório referência, com destaque para os resultados nas pesquisas sobre peixes de água doce e algumas espécies foram recriadas em cativeiro pela primeira vez no mundo. Instalado no Batalhão de Polícia Militar Ambiental, no Parque das Nações Indígenas, o maior laboratório de peixes pantaneiros do mundo, conta com 150 tanques ativos que abrigam 189 espécies de peixes neotropicais: 135 espécies pantaneiras; 55 da Amazônia; 14 africanas e outras da Oceania, Ásia e América Central.
Mas nem só de peixes vive o Aquário do Pantanal. O cenário completo é composto por um paisagismo de tirar o fôlego. Não por acaso ele foi premiado no 11º Seminário Internacional da USP – NUTAU, cujo tema foi Águas, projetos e tecnologias para o território sustentável. Criado por equipe de professores – arquitetos e biólogas da UFMS -, o projeto do Aquário se destacou pelo uso de espécies nativas. As botânicas-biólogas da UFMS, Edna Scremin Dias e Vali Joana Pott, professor Arnildo Pott e as arquitetas Eliane Guaraldo e Gisele Yallouz, autores do projeto, estiveram no local para avaliar a situação e fazer novos estudos para retomar o trabalho. O grupo de pesquisadores (que incluiu também estagiários da UFMS) está junto desde o início do projeto, e trabalharam junto com Rui Otake para integrar os sistemas. A parceria deu tão certo, que o famoso arquiteto alterou o projeto de iluminação para atender sugestão do paisagismo que queria iluminar os jardins. Felizmente, segundo ela, apenas 10% do contingente da flora prevista no projeto, já havia sido plantada.
Pesquisa para recriar cenários
A arquiteta, Eiane Guaraldo, professora de paisagismo e coordenadora da pós-graduação em Recursos Naturais, explica que o projeto foi experimental em tudo, porque é a primeira vez que se tenta colocar plantas em outro bioma, ou seja, recriá-las fora do seu habitat natural. “É a primeira experiência, que se tem conhecimento, de um jardim com plantas do Pantanal”. Segundo a pesquisadora, a intenção foi recriar os vários cenários e situações que acontecem no Pantanal. “Temos, por exemplo, as áreas alagadas, onde ocorrem certas vegetações como o Buriti; o chaco, área que tem vegetação parecida com o semiárido e o túnel de sombra – composto de árvores que vivem na sombra”, conta, explicando que os Buritis plantados no início não conseguiram sobreviver, porque de acordo com a professora, são plantas que necessitam de água corrente. Outra espécie que não sobreviveu foram as plantas aquáticas. Felizmente apenas 10% do contingente da flora prevista no projeto já haviam sido plantadas.
Com a retomada das obras, a expectativa do grupo de pesquisadores é manter o projeto original. Antes de replantar a flora no local, toda a parte física precisa estar pronta, já que as espécies precisam do sistema de manutenção de vida e irrigação funcionando. “A vida, neste caso, vem por último”, afirma a bióloga. Uma das atividades que necessitam ser refeitas é retornar ao Pantanal para colher as espécies. Como da primeira vez, serão, pelo menos, dois meses de trabalho para colher 171 espécies entre plantas aquáticas, arbóreas, herbáceas, terrestres e forração. “Só nós podemos fazer este trabalho de campo, pois só nós sabemos reconhecê-las”, conclui.
O jardim temático proposto pelos pesquisadores dará ao Estado de Mato Grosso do Sul um perspectiva totalmente nova, sobre a forma como nós vemos a participação da natureza na nossa vida. Segundo Eliane, a execução do projeto será um caminho importante para valorizar a paisagem pantaneira. Como trabalho de pesquisa, proposto pela Fundect, o projeto de paisagismo do Aquário do Pantanal precisa ser concluído em sua totalidade para obter os resultados. “Será uma grande experiência fazer o acompanhamento científico e entender como as plantas conseguem sobreviver em outro local”, conclui a pesquisadora.
Theresa Hilcar- Subsecretaria de Comunicação – Subcom.
Foto: Divulgação.